Escondidos nos colchões, os percevejos alimentam-se de sangue humano e, ao serem insetos resistentes, estão a conseguir tornar-se numa das maiores pragas em Portugal.

Não têm mais de sete milímetros, mas a sua presença é suficiente para provocar borbulhas, comichão e desespero. Chegaram a Portugal na década de 90, à boleia do turismo, e parecem ter vindo para ficar. Minúsculos e discretos, os percevejos infiltram-se nos nossos lares e fazem do colchão e do estrato da cama habitat natural. Não é por acaso que, em inglês, se chamam “bed bugs”, insetos da cama. Nos últimos tempos, a região de Lisboa tem sido a mais afetada pela permanência destes pequenos parasitas que, aos poucos, se estão a tornar uma das maiores pragas existentes no País.

Por parte das empresas de exterminação, não há dúvidas. “Os pedidos de desinfestação aumentaram significativamente nos últimos anos”, confirma à VISÃO João Leitão, presidente da direção da Associação Nacional de Controlo de Pragas Urbanas (ANCPU). “Há oito anos, as empresas faziam uma média de quatro tratamentos por ano. Agora, só numa manhã, têm cerca de seis solicitações”, refere.

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Se há uns anos se acreditava que a existência de percevejos em casa e nos quartos de hotel era sinal de falta de higiene, hoje sabe-se que o aumento da presença dos insetos se deve ao turismo, mais concretamente à chegada e partida de viajantes. Não é por acaso que, além de Lisboa, as regiões do Porto e Algarve são das mais afetadas do País.

Escondidos na roupa e nas malas de viagem, os pequenos insetos de cerca de sete milímetros conseguiram atravessar continentes e espalhar-se de região para região, a partir de 1990. Edna Bernardo, especialista em parasitologia, explica, na sua dissertação de mestrado sobre percevejos, que este fenómeno se deve ao aumento dos recursos económicos a partir da década de 90: “As pessoas começaram a fazer mais viagens de turismo, para os mais diferentes países, de estudo e de negócios, com uma frequência que era impensável algumas décadas antes”.

Inicialmente, as pragas eram apenas identificadas em meios turísticos, como hotéis e alojamentos locais, mas atualmente até as casas particulares se encontram infestadas. “Já não é um problema só do turismo”, garante João Leitão. “Na capital, por exemplo, o movimento que existe nos alojamentos locais do centro histórico está a permitir que os insetos se espalhem para as casas das pessoas”.

percevejos

Existe perigo para a saúde pública?

Tal como todos os parasitas, o percevejo precisa de um hospedeiro – neste caso, o ser humano – para sobreviver. Durante o dia, esconde-se nos cantos do colchão ou no estrato da cama, só aparecendo à noite para se alimentar de sangue humano. A especialista em parasitologia explica que “o CO2 da respiração, os odores e a temperatura do corpo dos hospedeiros vertebrados” são elementos atrativos para os percevejos.

Quanto aos sintomas após a picada, Edna Bernardo escreve que “os seres humanos podem ter reações muito diversas à picada: desde serem completamente assintomáticos, até sofrerem alergias imediatas ou retardadas, localizadas ou generalizadas”. Contudo, descarta a possibilidade de serem transmitidas doenças após a picada dos percevejos, sendo as lesões cutâneas as reações mais frequentes.

Além das picadas, existem mais sinais da sua presença. É preciso estar alerta para o aparecimento de pequenas manchas de sangue nos lençóis- sinais evidentes das picadas- e, em casos de infestação mais avançados, surgem manchas pretas (excrementos) nas extremidades dos colchões.

Como travar a praga?

Os percevejos têm a particularidade de serem insetos muito resistentes e, como aponta João Leitão, ao longo do tempo têm desenvolvido ainda mais resistência aos inseticidas. Não é de estranhar que estes pequenos insetos sejam tão difíceis de exterminar, já que sobreviveram ao evento que matou os dinossauros. De acordo com um estudo publicado em 2014, na revista Current Biology, os percevejos habitam o planeta Terra há cerca de 115 milhões de anos, o que significa que viveram na mesma época que os dinossauros e, ao contrário destes últimos, ainda cá andam.

Mas, afinal, o que há a fazer para travar a praga? Em 2017, quando os casos de percevejos se tornaram mais frequentes em Lisboa, a Direção Geral de Saúde aconselhou as pessoas afetadas a procurar ajuda profissional. Atualmente, o presidente da ANCPU acredita que é a única solução eficaz.

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Para exterminar os insetos, as empresas de desinfestação oferecem dois métodos possíveis. O primeiro, uma solução biológica, na qual a área a tratar é vaporizada com uma máquina específica que aplica vapor a 180º, não constitui perigo para a saúde, podendo a divisão ser imediatamente utilizada após a desinfestação. Já o segundo método, por envolver a aplicação de inseticidas industriais, requer que o espaço esteja, pelo menos, 24 horas sob repouso até ser novamente utilizado.

Ainda que as condições de higiene não definam o aparecimento de percevejos, João Leitão aconselha todas as pessoas a adotar “hábitos de limpeza regulares”, uma vez que são uma forma de ajudar na “identificação atempada do problema”.

Fonte: VISÃO

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