Ao contrário daquilo que muitas pessoas pensam, as formas imaturas de mosquitos não surgem do lixo. E neste verão são menos – porquê? É a seca

Verão é muitas vezes sinónimo de noites ao ar livre e… repelente por causa dos mosquitos, para quem os corpos menos vestidos são banquete de fim de dia. Mas este ano os mosquitos parecem ter dado uma trégua nas zonas urbanas e até nas zonas rurais. Relatos que têm chegado à CNN Portugal dão conta de que estes insetos não têm aparecido com a mesma frequência e que por isso os repelentes (seja em aerossóis ou em pulseiras) têm ficado guardados.

Teresa Nova, entomologista e responsável pelo projeto do mosquito web do Instituto de Higiene e Medicina Tropical (IHMT), explica que, apesar de não existir neste momento nenhum grupo de entomologia do instituto a fazer colheitas em Portugal, a ausência de mosquitos – ou seja, os insetos que picam – pode ser explicada pelo “ano muito seco” que se vive.

“Tivemos um ano muito seco, não choveu, este verão também praticamente não tem chovido. Os mosquitos criam-se em água. Ao contrário daquilo que muitas pessoas pensam (que os mosquitos se criam no lixo), as formas imaturas dos mosquitos são formas aquáticas. A parte inicial do ciclo de vida destes insetos tem obrigatoriamente de decorrer na água. Não havendo água, não há mosquitos”, explica, acrescentando que “há regiões do país em que melgas e mosquitos são a mesma coisa”.

mosquitos

Ou seja, segundo a especialista, que estuda este tipo de insetos, os mosquitos que atormentam as épocas quentes precisam de água para se conseguirem reproduzir.

“Mas não se criam em água corrente, têm de ser águas paradas ou com uma corrente muito fraca. Na margem de alguns cursos de agua há espécies que se criam – ou em coleções de água, devido à atividade agrícola, seja por exemplo os campos de arroz que são alagados, bidões/tanques para acumular água para rega, bebedouros dos animais, isto se a água não for mudada com frequência. Nas zonas rurais, neste momento serão os únicos locais de coleção de mosquitos que sobram.”

No entanto, Teresa Nova faz a ressalva: as altas temperaturas que se fazem sentir, para além de contribuírem para um verão seco, fazem com que as águas paradas para rega e nos bebedouros dos animais seja “muito renovada”. “E isso não é muito bom para os mosquitos.”

“As temperaturas muito elevadas também não terão sido boas para os mosquitos adultos, com tanto calor a mortalidade dos adultos também é muito grande e as fêmeas acabam por não fazer as suas refeições sanguíneas e morrer sem pôr ovos.”

pedir orçamento

Culex pipiens, aedes caspios e aedes detritus

Se nas zonas rurais as águas paradas estão junto dos animais, nas zonas urbanas isso acontece maioritariamente nas águas em baldes ou nas sarjetas. Ou seja, se essas águas paradas não existirem, a prevalência de mosquitos será menor.

A juntar a isso, este ano “as condições que se verificaram nesta primavera/verão, juntamente com a falta de chuva durante o inverno/primavera, estão neste momento a justificar uma baixa densidade da população adulta e as pessoas não se estão a sentir picadas pelos mosquitos porque há menos – e provavelmente nas zonas urbanas não haverá criadores larvares”.

Teresa Nova refere, no entanto, que apesar de a seca não ajudar à proliferação de mosquitos, “dias seguidos de chuva também não serão favoráveis a que eles estejam em atividade”.

“Mas a falta de chuva terá diminuído o número de coleções de água (baldes, sarjetas) e o tempo quente faz com que, se calhar, a água que está armazenada nas zonas urbanas seja utilizada muito mais vezes e não fica parada o tempo suficiente para durar o desenvolvimento das formas imaturas – que, dependendo da temperatura, será entre uma semana e 15 dias. Se a água for renovada num prazo de tempo mais curto, as larvas que lá estiverem não chegam à fase adulta.” 

A especialista reitera que a falta de dados concretos atualmente não permite concluir quais as espécies que estão a ser afetadas, sendo que uma das que podem estar a ser alvo da seca são os aedes, espécie autóctone presente em várias zonas de praia, enquanto nas zonas urbanas são os mosquitos culex pipiens os responsáveis pelas picadas.

“Habitualmente em zonas de praia (Algarve, Comporta, Tróia) as pessoas são muito picadas por aedes caspios e aedes detritus, que são duas espécies que existem em Portugal e estão muito associadas e tem um comportamento particular: as fêmeas não precisam de pôr ovos na água, podem pôr na zona ribeirinha, zona de sapal, zonas costeiras, mas podem pôr os ovos na vegetação – que depois, quando são inundadas periodicamente (maré ou inundações), as larvas nascem todas ao mesmo tempo, os adultos nascem todos ao mesmo tempo.”

Ou seja, segundo a especialista, “quando nascem as fêmeas vão todas fazer as alimentações e por isso é que as pessoas são ‘comidas vivas’ porque é uma nuvem de mosquitos”. Trata-se de uma situação diferente da que se verifica nas zonas urbanas, mas também estas têm sido afetadas pelas temperaturas muito altas e pela falta de chuva – que “interferiu na dinâmica de populações de mosquitos em Portugal”.

Fonte: CNN
to top
Abrir chat
💬 Precisa de ajuda?
Olá 👋
Podemos ajuda-lo?